03/03/2010

CINE CLUBE : sexta feira O Delator!



Cinema Teixeira de Pascoaes
6ª feira às 21: 30
Telefone: 255 431 084
 
O Delator!
Título original: The Informant!
De: Steven Soderbergh
Com: Matt Damon, Lucas McHugh Carroll, Eddie Jemison, Melanie Lynskey
Género: Acção, Comédia
Classificacao: M/12
EUA, 2009, Cores, 108 min.


Já há muito tempo que não víamos uma comédia como O Delator!(título original:The Informant!). É um filme de desconcertante amargura existencial, invadido por um negrume que nunca é estranho às marcas de um humor insólito e devastador. É também a prova da versatilidade de Steven Soderbergh, que no ano passado nos dera o fabuloso Che. Num mundo perfeito a interpretação de Matt Damon deveria valer-lhe um Óscar "obrigatório". 

João Lopes no jornal Diário de Notícias a 30 de Outubro de 2009

A leitura de "O Delator" - história, verídica, de Mark Whitacre, bioquímico de uma multinacional que nos anos 90 colaborou com o FBI na denúncia de práticas fraudulentas da sua empresa - como um filme da crise, como filme sobre o fim de um sistema tal como o conhecíamos, foi proposta a Soderbergh (no Festival de Veneza). Que não se riu, mas chamou a atenção deste facto: o projecto é de 2001. Portanto, assumiu, a conexão é acidental, por mais benéfico que seja para o filme dar-se a ver como espelho da doença que alastrou pela "corporate America". Vê-se pelo genérico luxuriante - o tom 70s na banda sonora é da autoria de Marvin Hamlisch - que Soderbergh está em modo de reescrita, e mais interessado nos exercícios de uma personagem, alguém que, veio a descobrir-se, se construiu a si próprio como ficção, envolvendo a sua vida em mentiras, ele próprio agente activo de práticas de fraude.
Whitacre (Matt Damon) era um maníaco-depressivo e Whitacre/Damon é um negativo nada glamouroso dos patifes que povoam muito cinema americano e o cinema do Soderbergh da série Ocean''s. É uma comédia negra fantasista (ao contrário do que aconteceu em "Erin Brokovich", Soderbergh não quis fazer pesquisa junto de quem conheceu uma personagem real...), é um daqueles exercícios "menores" mas enérgicos deste realizador "de segunda" - não é juízo de valor, é a forma como Soderbergh se coloca perante quem chegou antes dele. Note-se o duelo entre imagem e som, a sabotagem permanente, que nos vai dando indícios do mal-estar de uma personagem - agora acrescentamos: e de uma época.
Vasco Câmara, Público, 28/10/2009

Contado ninguém acredita
 
Steven Soderbergh transforma a história verídica de um informador infiltrado numa comédia escarninha sobre a verdade e a mentira.
Graças a Deus que existe Steven Soderbergh para provar que é possível continuar a fazer cinema "desformatado", pessoal, subversivo, invulgar, diferente dentro de uma Hollywood cada vez mais formatada e formulaica.
Depois do díptico dedicado a Che Guevara e de "The Girlfriend Experience" (fita independente com a actriz porno Sasha Gray que ainda não viu estreia entre nós), o autor de "Erin Brockovich", dos três "Ocean's Eleven" e de "O Bom Alemão", assina mais um objecto não identificável, subvencionado pela "major" Warner e com um actor de primeiro plano (Matt Damon, com dez quilos a mais e a confirmar como pode ser grande quando lhe pedem para representar).
Da história verídica de um executivo agroquímico que se ofereceu ao FBI em 1992 como informador infiltrado numa multinacional dos aditivos, que podia ser mais um desses thrillers legais que Hollywood adora fazer à medida das suas estrelas, Soderbergh tira uma surpreendente comédia trágica sobre um mitómano compulsivo, onde nada é o que parece e tudo é filmado com os tiques formais dos dramas políticos e das séries policiais televisivas dos anos 1970. O realizador encena os trabalhos de Mark Whitacre como uma meditação escarninha sobre a verdade e a mentira e sobre o modo como a nossa percepção dos conceitos pode ser manipulada quase sem darmos por isso - meditação que Soderbergh se delicia a filmar como uma demonstração prática dessa teoria.
Inversão sardónica de e homenagem respeitosa a filmes como "Os Homens do Presidente", revista e corrigida pelos truques conceptuais que Soderbergh vai buscar ao Godard clássico e ao non-sense britânico dos "swinging Sixties" (nunca esquecer que o cineasta é um ferrenho de Richard Lester, o homem que primeiro e melhor filmou os Beatles), "O Delator" é mais um dos objectos inclassificáveis disfarçados de filme "mainstream" que o realizador adora atirar para a modorra criativa dos estúdios. Não é uma obra-prima - há momentos em que tudo se resume em demasiado a uma experiência formal (e todos sabemos como o autor de "Sexo, Mentiras e Video" se deixa levar facilmente pelo formalismo), e fica sempre a sensação que Soderbergh está mais interessado no modo como conta a história do que na história que está a contar. Mas nem todos os filmes têm que ser obras-primas - basta apenas que sejam estimulantes. E, nisso, "O Delator" confirma a cem por cento que está aqui o realizador mais vital a trabalhar hoje em Hollywood...
Jorge Mourinha, Público, 21/10/2009

Cineclube de Amarante

Sem comentários:

Enviar um comentário